domingo, 29 de março de 2009

2/11/1990 Ironia

Como a natureza é bela.
Os altos e grandes prédios,
o chilrear dos carros,
música nos nossos ouvidos.
O belo fumo negro da poluição.
Tudo, tudo é belo.
O acordar de manhã,
lindo cantar dos martelos e das picaretas,
das obras em casa do vizinho.
O almoçar ao som do rádio,
do vizinho de baixo.
As bichas para o comboio,
as bichas do Banco, do supermercado,
dos autocarros, do médico,
onde todas as pessoas
falam alegremente umas com as outras.
As viagens de autocarro
ao H. Santa Maria, em consulta,
que nos dão maravilhosas oportunidades
de, em 2 horas, podermos apreciar,
as ínfimas coisas de Lisboa.
Que pena não haver bichas todos os dias.
Que bom podermos andar de metro,
nas horas de ponta.
Dá-nos a óptima oportunidade
de conhecermos as pessoas.
Os seus maravilhosos cheiros a suor,
Os seus belos e sebosos, perdão, sedosos cabelos
que, para os mais baixos, lhe passa pela boca
e para os mais altos, lhes fazem cócegas nos peitos.
Falo dos maravilhosos cabelos e das ágeis mãos.
Que bom todos podermos comer.
Até naquelas maravilhosas caixas verdes,
aquelas de parede, alguns podem comer.
Que bom que é, à noite,
podermos andar descansados na rua
e termos, nem que por 5 segundos,
a companhia de um simpático cavalheiro,
que nos pede a nossa carteira,
para não nos cansarmos,
enquanto nos mostra a sua bela ponta-e-mola.
Que linda é a natureza.
Só espero que nunca deitem abaixo
os nossos novos e seguros prédios,
para construírem
aquelas árvores feias
e sem nenhuma utilidade!

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